sexta-feira, 19 de junho de 2009

Jornalismo e mapas

A expansão e a popularização da utilização do ciberespaço fizeram com que uma categoria midiática se destacasse: a mídia locativa. Nela, o conteúdo informacional vincula-se a um local específico, onde o conteúdo está diretamente ligado a uma localidade. É um processo de emissão e recepção de informações a partir de um determinado local, gerando uma intensa relação entre o espaço e a tecnologia móvel digital.

Essa mídia locativa contribui para a transformação do espaço urbano que acaba se inserindo no digital. O ciberespaço e o espaço urbano tornam-se híbridos, alterando o este em uma ciberurbe. Esse espaço passou a ter características diferentes dos Meios de Comunicação de Massa, onde a mensagem se concentra em um ou poucos emissores. O diálogo é praticamente inexistente e o fluxo da mensagem concentra-se em apenas uma direção. No ciberespaço isso é diferente.

Essa mídia pós-massiva interage com o receptor, tornando as relações entre o ele, o espaço e a informação muito mais próximas. E o que contribui para que isso se efetive é o avanço tecnológico que possibilita a mobilidade midiática e a expansão das noções espaciais.

Como exemplos de mídia locativa existem os Geotags e o Mapeamento e Monitoramento de Movimento.

Os geotags tem objetivo de agregar informações digitais na forma de mapas, podendo ser acessada em dispositivos móveis, como o telefone celular ou laptop. Pode-se a partir de geotags agregar informações de texto a mapas, com localidades específicas. Esse sistema de compartilhamento permite a troca de informações de tags através de localização de lugares em mapas mundiais.

O Mapeamento e Monitoramento de Movimento possui funções de localização aplicadas ao mapeamento (mapping) e de monitoramento de movimento (tracing) do espaço urbano em dispositivos móveis. Com esse recurso possível traçar o percurso de uma determinada pessoa, localização de uma empresa, trajetos de cidades, trânsito, paisagens, ou representar os espaços que determinado fato relevante aconteceu.

Para você entender melhor, aí vai um glossário com os principais termos que englobam a mídia locativa.

Mídia locativa: conjunto de dispositivos informacionais digitais no qual o conteúdo está diretamente ligado a uma localidade específica.

Ciberurbe: Ciberurbe é a dimensão informacional na nova relação entre a esfera midiática, através das mídias locativas, e o espaço urbano. As trocas informacionais emergem de objetos que emitem localmente informações que são processadas através de artefatos móveis e novas práticas de mobilidade comunicacional, criando novas relações sociais com o espaço.

Geotags: tipo de mídia locativa cujo objetivo é agregar informações digitais na forma de mapas, podendo ser acessada em dispositivos móveis, como o telefone celular ou laptops.

Mapeamento e Monitoramento de Movimento: é um recurso que permite traçar o percurso de uma determinada pessoa, localização de uma empresa, trajetos de cidades, trânsito, paisagens, ou representar os espaços que determinado fato relevante aconteceu. Isso é possível através de funções de localização aplicadas ao mapeamento (mapping) e de monitoramento de movimento (tracing) do espaço urbano.

Mashup: mistura de dados provenientes que usa conteúdo de mais de uma fonte para criar um novo serviço completo.

Onde mapear

Pode-se fazer um mapeamento através de duas plataformas simples de serem usadas. A primeira delas é o Google Maps.

O Google Maps é um dos serviços da Google que permite a pesquisa e visualização de mapas, imagens de satélite. Por ele é possível traçar rotas e fazer localizações espaciais em qualquer parte do mundo. Além disso, ao possuir um cadastro com a empresa, é possível ao internauta colocar conteúdo nos mapas.

Outro exemplo de visualização espacial é o Google Earth, que pode ser licenciado ou não-licenciado (gratuita), sendo que esta possui menos recursos que a primeira. Pelo Google Earth é possível o acesso a fotografias de satélites em terceira dimensão.

O Yahoo! Maps, da empresa Yahoo! é outra plataforma que permite a visualização de localidades. Ele possui menos recursos que os mapas do Google; não permite a criação e contribuição de conteúdo, os recursos são limitados e apresenta apenas um tipo de visualização (pelo Google você pode ver seu mapa por visualização de satélite, por terreno e a normal).

E lá no exterior?

A utilização de mapas como recurso do jornalismo é muito explorado no exterior.

O Washington Post, edição online do jornal diário americano The Washington Post, publicou um mapa após as eleições de 2008 para a presidência dos Estados Unidos que demarcava em cada município do país a margem de vitória de Barack Obama e de Jonh McCain. Os índices de vitória são representados por uma coluna que cresce na vertical em proporção ao número de vitórias.

Esse mapa era visualizado de três formas: somente com os índices de Obama, ou somente as vitórias de McCain, ou ainda, mesclando os índices de vitórias dos dois candidatos no mesmo mapa. As informações adicionais ao mapa são as legendas indicando que a cor vermelha no mapa corresponde a McCain e a azul representa Obama. No canto direito há a explicação de como é calculado o índice de vitória, que foi feito em cada município, subtraindo os votos perdidos dos votos ganhos, de cada candidato.

Índices combinados de Obama e McCain

O mesmo site também possui um mapa interativo de notícias, chamado Time Space, que permite navegação por notícias, fotos, vídeos e comentários de vários lugares do mundo. Ele é um mapa que está fixo no site e recebe constante atualização. No Time Space existe o recurso de uma linha do tempo de notícias passadas e através dela é possível customizar a busca de notícias, modificando o dia e a hora específica que o usuário deseja encontrar.


Informações mundiais mapeadas no horário delimitado


Já o site espanhol Elpais.com publicou um gráfico interativo sobre a gripe “suína”. A partir de um mapa do mundo, o Elpais indica os casos confirmados e as mortes causadas pela gripe A (H1N1). As bolas rosas representam a quantidade de casos confirmados da gripe “suína” e as bolas vermelhas mostram o número de mortos, em cada país. As bolas aparecem em vários tamanhos, quanto maior a bola maior o número de pessoas infectadas ou mortas com a gripe A. O gráfico também apresenta mais duas representações em multimídia, uma mostrando como o vírus H1N1 é transmitido de porco para porco, e outra mostrando como o vírus é transmitido para humanos.



Localidades mais atingidas pela doença


O Elpais também criou um gráfico interativo que retrata a partir de um mapa a rota do Air Bus A330-200 da Air France, desde a sua saída do Rio de Janeiro até o acidente, à 1500 km do ponto de partida. O gráfico tem uma linha do tempo com horários e comentários sobre o que aconteceu em cada hora indicada na linha. Ele ainda disponibiliza mais quatro tipos de informações em multimídia: simulação do acidente; a busca pelo Air Bus; as hipóteses da causa do acidente e dados gerais sobre o avião.



Rota e horários da tragédia da Air France

Aqui no Brasil

No Brasil também está cada vez mais comum os sites utilizarem desse recurso para deixar a notícia mais interessante e chamativa para o usuário. O site Agência Brasil é um site de comunicação do governo que disponibiliza notícias, grandes reportagens, coberturas temáticas, além de infográficos e mapas. Alguns exemplos dos mapas que os internautas podem encontrar são: análise dos estádio brasileiros e suas condições de uso para a Copa do Mundo de 2014, as enchentes de Santa Catarina, os dez maiores desmatamentos autuados no Brasil e uma amostra de um projeto de divisão da Bolívia em regiões politicamente autônomas, dentre outros.

No exemplo dos dez maiores desmatamentos autuados no Brasil há exatamente a quantidade de hectares de desmatamento nas maiores reservas florestais desmatadas ilegalmente, localizadas no mapa. Por ser um mapa disponibilizado pelo Google, ele tem os mesmos recursos do Google Maps.


Aqui é possível visualizar o local com maior desmatamento


No site Rota da Reciclagem, o internauta pode visualizar os locais onde existem serviços de reciclagem no país. O usuário digita um local determinado e o site aponta cooperativas, comércios e pontos de entrega voluntária mais próximos. O site é inteiro sobre reciclagem e existe apenas essa opção de mapa.


O intenauta pode ver como é o funcionamento do site logo ao abri-lo



Ao pesquisar a localidade na barra de pesquisa, o mapa dá informações sobre os postos mais próximos de reciclagem. É possível ainda obter mais informações sobre a rota que se deve pegar para chegar até o posto.


O site Wikicrimes faz um mapeamento colaborativo dos crimes que acontecem no país. Ele disponibiliza uma legenda para identificar se o crime foi roubo, furto ou outros, além de denúncia. Além de mapa, satélite, híbrido e terreno, há a opção zonas quentes, regiões que concentram grandes quantidade de crime, de acordo com o site.


Zonas quentes de criminalidade


Ao procurar uma localidade no mapa, o internauta recebe informações sobre o tipo de crime

Mapas é discussão na rede

O blog "Dicas de um fuçador" comenta sobre o uso de mapas para ilustrar e complementar fatos noticiosos. No post, ele exemplifica com o uso dos mapas pelo site do Estadão sobre policiais que estavam montando guarda em uma favela em São Paulo.

O post não tem outros exemplos, mas aborda uma questão interessante ao falar como o recurso dos mapas contribui para que o jornalismo online tenha mais profundidade em seus relatos. Vale a pena dar uma olhada.

Como criar um mapa?

Através de uma conta no Google, é possível criar um mapa sobre qualquer assunto que o Internauta desejar abordar. E isso é muito simples. Veja abaixo:

1. Identifique as notícias que você quer mapear
O primeiro passo é pesquisar e escolher o assunto a ser mapeado, dados ou informações que gerem interesse.

2. Extraia as informações/ dados
Descubra os dados acerca da notícia e faça uma planilha com os mesmos, a fim de clarear e agrupar informações, quando for necessário.

3. Localize as informações no mapa
Para essa e as outras etapas é preciso ter uma conta no Google. Localize os pontos onde ocorrem os fatos a serem mapeados. Uma busca no Google ajuda nessa fase.

4. Crie o seu mapa e salve o local
Após estar “logado” no Google, entre em Mapas, clique em “Meus mapas”, depois clique em “criar novos mapas”. Coloque o título e a descrição do assunto que o mapa irá tratar. Clique em “pronto”. Clique agora em “editar”, ferramentas de edição aparecerão no lado esquerdo superior do mapa. Depois defina se você quer que o mapa seja público – que todos possam ter acesso a ele - ou reservado - compartilhado somente com pessoas que têm o URL do mapa. Isso pode ser feito no canto esquerdo inferior da página.


Com uma conta no Google, você pode começar a criar um mapa clicando em "Meus Mapas"



Existe a opção em deixar o conteúdo publicado ao acesso de todos, escolhendo a opção "Público" ou com acesso apenas para aqueles que possuem a URL do mapa (opção "Não-listado")



5. Edite os dados dos pontos

Nessa fase, coloque as informações de cada ponto do mapa. Para colocar os pontos clique em “adicionar marcador de lugar” no canto esquerdo superior do mapa. Edite o título e as informações do lugar. Para colocar links no texto do marcador clique em “editar HTML”. Quando estiver pronto clique em “Ok”, que as informações serão salvas automaticamente.


Crie um título referente ao seu conteúdo


É possível colocar diferentes tipos de marcadores, assim como criar um marcador personalizado


Também é possível desenhar linhas, traçá-las ao longo de estradas e desenhar polígonos que se ligam e formam áreas demarcadas. Outras informações importantes não podem ser esquecidas. Para “linkar” o mapa em um site ou blog clique na palavra “link”, no canto direito do mapa e copie o código de "embed".


Através dessa ferramenta o mapa pode ser "linkado" com outro conteúdo, complementando um fato ou notícia


Ao clicar com o botão direito em um ponto de referência é possível ver suas propriedades, excluí-lo, saber como chegar até ele partindo de outro ponto, como chegar a outro ponto partindo dele, desenhar linhas e polígonos e centralizar todo o mapa a partir daquele ponto.

É possível acrescentar fotos, vídeos, informações da Wikipédia e ver imagens de webcams instaladas em várias partes do mundo, com um atraso de 15 minutos. Também é possível colocar um marcador de trânsito que informa se ele está lento ou rápido naquele local. É possível a visualização do mapa com ruas marcadas, com imagens através de satélite e com os contornos dos terrenos. Existe um controle de navegação no lado esquerdo do mapa que permite que o usuário dê mais ou menos zoom na imagem.